terça-feira, 29 de setembro de 2009

The Day After

Alguns municípios do Estado do Rio de Janeiro, da Região Metropolitana e de algumas outras regiões do Estado estão vivendo um momento único no transporte coletivo.
Trata-se da súbita redução do transporte clandestino por vans que, ao longo de 2 décadas, “comeu pelas beiradas” o transporte regular autorizado.
Todos os modais (ônibus, metrô, barcas, trens de subúrbio e taxis) perderam demanda, cresceram muito menos do que o esperado e as margens de lucro caíram.

Confirmando expectativas que só os otimistas esperavam, estamos acompanhando, desde julho desse ano, uma tentativa séria do poder público estadual em direção à reversão desse quadro. Acredita-se que há uma tendência de que vários governos municipais no estado, acompanhem o governo estadual.

É UM MOMENTO ÚNICO PARA QUE OS OPERADORES REVEJAM OS ERROS COMETIDOS.

As vans ensinaram aos que não sabiam, que os mercado têm demanda segmentada e que aceitam a segmentação da oferta.

Há demanda, e muita, para serviço rápido, com mais conforto, com mais status, principalmente nas viagens casa-trabalho/trabalho-casa.

Temo que as empresas operadoras de ônibus, por falta de reflexão adequada... decidam comprar mais ônibus!
Temo, ainda mais, que as empresas operadoras de ônibus, decidam comprar mais ônibus sem cobrador.

Os órfãos das vans querem rapidez, faixa exclusiva, bom atendimento, limpeza, lugares sentados, pagamento com VT e assentos confortáveis.

Atualmente, estão convivendo com ônibus cheios, viagens em pé e micrões sem cobrador.

Há expectativas que, em breve, estarão convivendo com aumento de tarifa.

NÃO VAI SER DURADOURO!

AS EMPRESAS OPERADORAS REGULAMENTADAS, DE TODOS OS MODAIS, DEVERIAM DISCUTIR O ASSUNTO, JÁ.

NÃO É TODO DIA QUE UM CAVALO BRANCO PASSA ENCILHADO NA PORTA DE UMA GARAGEM.

domingo, 27 de setembro de 2009

Pensamento do Dia

"Onde tem plantação de cana, não tem passageiro de ônibus.
Usineiro anda de avião e trabalhador anda de lambreta!" (Seu Jelson - fundador da 1001 e do grupo JCA))
lambreta - chinelo de dedo

sábado, 26 de setembro de 2009

Empresa de ônibus x Empresa de transportes de pessoas

Eu e minha mulher estávamos numa ótima festa com pessoas de muitas tribos, com boa bebida e com anfitriões, amigos nossos, simpaticíssimos.
Levados até um grupo por um deles, meu amigo nos fez tantos elogios que ficamos à vontade de ficar por ali, conversando com todos.
Festa boa é assim, as afinidades e coincidências vão aparecendo e a conversa flui.
Lá pelas tantas, fui perguntado sobre o que fazia, onde trabalhava.
Como sou um especialista em transportes de passageiros, poderia ter me apresentado como tal.
à época, como executivo de uma das maiores empresas de transportes do estado e do país, poderia ter dito: executivo.
Mas, por provocação, respondi que trabalhava em empresa de transporte de pessoas.

Ah, sei... você deve trabalhar numa empresa de ônibus e não quis falar..., - um interlocutor complementou sorrindo.

Não é isso, respondi.

Dirigindo-me a ele, mas percebendo que havia outros aguardando minha resposta prossegui: Poderia ter respondido dessa maneira e, talvez, você que é comerciante fosse entrar em considerações de que as empresa de ônibus não passam pelas mesmas dificuldades de seu negócio. Aí, o professor universitário, ao nosso lado, acharia que esse segmento da economia só é poderoso por viver de permissões e ser cartelizado e pior, as mulheres, que por acaso nos ouvissem, certamente teriam queixas sobre barbaridades vividas no tráfego. Responder que trabalho numa empresa operadora de transporte de passageiros, me pareceu mais instigante para uma festa tão maravilhosa quanto esta, finalizei com o melhor dos meus sorrisos.

Mas vocês recebem à vista, adiantado, não têm que financiar as vendas, não pagam as altas taxas impostas pelos operadores de cartões, não ficam com mercadoria encalhada, - disse-me o comerciante.

O poder do empresariado de transporte é oriundo do monopólio das linhas, os ônibus são desconfortáveis e ainda são montados em chassis de caminhões! Nessa cidade congestionada como a nossa, a quantidade de ônibus vazios andando nos principais corredores, como o de Copacabana, é um absurdo! Enquanto isso, os alunos viajam em ônibus superlotados para a Ilha do Fundão e a universidade federal está pensando em fretar ônibus para transportá-los!, - era o professor que se empolgara com o assunto.

Meu neto foi assaltado num ônibus e levaram seu IPOD!, - disse-me uma senhora indignada.

Respirei fundo, minha mulher falou baixinho no meu ouvido: Sá, meu amor, vê lá hein, não engrossa por favor!

Assalto em ônibus é mais uma questão de segurança pública. Ainda assim, a cada dia mais ônibus estão com circuito interno de TV, com gravação de imagens...
As empresas modernas procuram atender à necessidade de deslocamento de pessoas ou de grupo de pessoas para crescer. Aceitam pagamento em cartões, aceitam parcelamento, tem diversas promoções como descontos na compra antecipada, em dias da semana e horários específicos do dia!
"Parra atrairr clientes, fazemos qualquerrr negócio!", - brinquei

Essas empresas tem call center, site próprio para vendas a distância e tentam se igualar às melhores prestadoras de serviço do país.
EM NENHUMA LINHA OPERAM COMO SE FOSSEM MONOPOLISTAS. QUEBRARIAM A CARA!
Na verdade, consideram que têm concorrentes em todas os serviços. Dependendo da linha concorrem com avião, barcas, transporte clandestino, carro particular e/ou outras operadoras.
Se operam em linhas municipais, consideram concorrer com o deslocamento a pé, quando em pequenas distâncias!
Algumas segmentam a demanda e têm diferentes serviços que concorrem entre si!
Atualmente, muitas empresas de ônibus, se profissionalizaram e tem executivos especializados como eu, para ajudá-las a sobreviver e a ter lucro, concluí.

Mas dizem que O MELHOR NEGÓCIO DO MUNDO é uma empresa de ônibus bem administrada e que O SEGUNDO MELHOR NEGÓCIO DO MUNDO é uma empresa de ônibus mal administrada. - falou um gaiato na roda.

Bem, respondi, as mal administradas foram pro brejo...

Nesse segmento, é obvio que ainda existem empresas de ônibus tradicionais, mas há outras que se transformaram em empresas que precisam sobreviver e ter lucro, transportando pessoas ou grupos de pessoas. Ao se considerarem assim, entenderam que precisam ter bons serviços e que precisam saber vendê-los.

Pode parecer que é a mesma coisa, mas na prática, é muito diferente...

Aliás, meus caros, quem acreditou que celular é um telefone móvel, saiu do mercado.
Querem fazer um teste?- disse

Quantos daqui têm um aparelhinho simplesinho que só serve para falar? - concluí.

Minha mulher, olhou para mim e piscou. Mandou bem, amorrrr!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Abertura

Desde adolescente gostava de observar pessoas que circulavam nas ruas, nos lugares.
As que aguardavam nas travessias das ruas ou as que viajavam nos ônibus urbanos, sempre tentei adivinhar de onde vinham, para onde iam ou porque estariam ali.
Observava-as e inventava estórias sobre elas.

À época, a propaganda do bonde estimulava a imaginação...
Veja ilustre passageiro,
O belo tipo fagueiro,
Que o senhor tem ao seu lado.
No entanto, acredite,
Quase morreu de bronquite, salvou-o o "RHUM CREOSOTADO"


Ainda que não me achasse um ilustre passageiro, ficava imaginando quantos tinham sido salvos...

E eu que "Gostava de política em 1973 e frequentava o Frenetic Dancing Days..." me formei em engenharia de Materiais e Metalurgia.

Em 1978, a sorte me levou a ser contratado para resolver problemas de soldagem na fabricação dos carros do Metrô do Rio de Janeiro. 3 meses depois, com o início da operação naquela empresa, descobri completamente pasmado e surpreso, que existia a profissão de engenheiro de transportes, onde poderia lidar permanentemente com pessoas ou com grupos de pessoas!

Larguei, assim que pude, a “incomparável formação superior”, apesar do êxito precocemente alcançado e a despeito das preocupações familiares.

Desde então, vivo um caso de paixão com a profissão que escolhi.
Fiz Mestrado em Transporte Público na COPPE, quase conclui o Doutorado na mesma instituição e, desde então, trabalho intensamente no transporte de pessoas, com algum êxito, seja como consultor, planejador, marqueteiro ou operador.

De quebra, ganhei a obrigação de tentar entender como a cidade se desenvolve, pulsa e ferve.
Virei um observador de cidades, de bairros, de ruas para entender melhor, como as pessoas circulam por todos esses lugares.

Esse blog, é sobre estórias do transporte público, sobre a cidade e sobre seus habitantes.